quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Do presente que ganhei dia 19 de dezembro de um morador de rua... e bêbado!

Foi assim, eu estava indo pra casa de minha avó para passar uns dias. Era dia 19 de dezembro, estava bem frio e cinza de nuvens de chuva pesadas.
Ele estava lá na parada, pedindo dinheiro para inteirar sua passagem para a embriaguez, segundo ele mesmo. Pediu a uma moça que pedisse um poema, tendo ela ignorado começou a recitar.

Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos

E depois ainda disse...

"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "
Eça de Queiroz, O Primo Basílio

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